segunda-feira, 11 de outubro de 2010

O Falso Cristianismo

"(...)No Sermão da montanha, Jesus definiu os princípios básicos de uma nova religião. Jesus exaltava a pobreza, a humildade e a fraternidade, aspectos que não eram valorizados nas sociedades anteriores." **

Princípios básicos e indiscutíveis: Amai a Deus sobre todas as coisas e amai ao próximo assim como a ti mesmo. Afinal quem é o próximo que Jesus tanto suscitou? Serão os meus pais, irmãos consanguíneos, familiares e amigos mais próximos e só? ou aqueles não tão "próximos" também estariam incluídos? Prefiro acreditar que o próximo ao qual o Mestre se-refere é justamente aquele ser indiferente que se encontra do outro lado da calçada, muito mais do que aquele que convivo em meu ciclo familiar e amistoso, cuja a facilidade de se amar e se ajudar é agradável na maioria das vezes. Em templos suntuosos, sentados em bando, com apenas os olhos e a cabeça voltados ao altar, socialmente bem vestidos e com aparente semblante de seriedade, igualdade e complacência, muitos de nós ouvimos calmamente os sermões e discursos, as vezes pálidos, outras vezes inflamados, nem sempre sensatos e inspirados, dos intitulados sacerdotes cristãos. Ao final, do mesmo modo em que entramos, apenas com os olhos e a cabeça erguidos à frente dos nossos corpos, saimos seguindo os nossos respectivos caminhos, com a falsa certeza de que esse ritual já nos basta, de que assim estamos sendo verdadeiros cristãos. Nossa! Que bonito cristianismo vivemos praticando dia após dia! Com o perdão da palavra, engolimos "reto à dentro" toda a hipocrisia social, toda a ordem neoliberal, todo o egoísmo unilateral. Enquanto o nosso próximo agoniza nas calçadas, nas filas, nas valas, no pó e na pedra, preferimos como diz o sábio Kim (Catedral), beber pra esquecermos que estamos sem direção, completo dizendo que mergulhamos em mundos imaginários e egocentricos, portanto, bebemos da nossa própria ilusão. Daí eu penso que talvez o dízimo seja algo mais que a contribuição frente ao altar, talvez o dízimo seja de fato partilhar e não concentrar nas mãos o futuro do cidadão. Talvez ser de cristo seja algo mais que ir ao templo "bater cartão", talvez ser de cristo seja ser irmão e fora da igreja, partilhar o pão, abraçar a dor dos que dizem "não" e curar com o amor antes de anunciar a salvação!!


**Diogo Brandão e Pedro Marques, O Cristianismo: uma religião inovadora

domingo, 10 de outubro de 2010

Felicidade mora ao lado...

Iniciou-se ante-ontem à noite mais um feriadão... Eita coisa boa! Precisava esparecer um pouco, ver o vento no litoral que tanto me encanta, me acalma e acolhe a alma, rever amizades, como a minha querida índia Naina, assim como também, quem sabe, formar novas... Desse modo começei o meu sábado; peguei um ônibus e sai do ar tenso, ríspido e agoniante de Itabuna, em direção à Ilhéus. Pensava eu sobre a felicidade, mais especificamente pelos momentos em que até então eu havia passado e estava passando, tão turbulentos e incertos... Até ai tudo bem. Então uma senhora entra no ônibus... ligeiramente um espanto geral surge no ar, ainda que bastante discreto e comodo. Uma mulher "definhada", cega de um olho e o outro quase tomado pelo mesmo mal. Visívelmente desnutrida e desprovida de qualquer condição de vida humana, digna... O corpo cheio de marcas, bastante visíveis aos nossos olhos. Ela apenas pedia uma ajuda enquanto levantava uma cartela de comprimidos com um único comprimido ainda a ser consumido... Nessas horas a nossa impotência perante à vida do próximo torna-se escancarada, desnuda. Assim alguém abre a mochila e apenas enxerga uma nota de 5 reais, não pensa duas vezes e entrega a senhora. Ela se espanta o ver uma nota de 5 reais, acostumada com moedinhas de 5, 10, talvez 50 centavos, se desse sorte 1 real, observava a nota de 5 reais como se fosse uma de 100 ou 10 delas, de repente um sorriso e um esbravejo: "Deus te abençoe meu filho! Que ele te dê saúde!" "Amém!". A senhora se encheu de alegria e após saltar do ônibus, através da janela, uma imagem simples, talvez com pouco ou nenhum significado aos civís alí presentes, cegos de acordo a sua conveniência, sôou profundamente no meu ser. Um sorriso quase que sem dentes mais com um brilho tão intenso e tão sincero e um acenar com as mãos, doce e suave. De quem novamente agradece com a alma calejada porém entusiasmada. Seguia eu a minha caminhada à Zona Sul ilheense e ali refletia àquela imagem atônita em minha mente e em meu peito. O que são 5 reais frente ao sofrimento que aquela senhora vivia, assim como tantos bilhões vivem por ai a fora? Não é pela oferta material simples e simbólica que me ative à reflexão, nem tão pouco sobre como esse miúdo seria utilizado por ela. Tão pouco importa isto nesse momento... Simplesmente na face daquela senhora eu enxerguei a minha face e a face dos que amo, enxerguei o resultado das nossas próprias misérias antes mesmo da miséria dela, o quão miserável somos interiormente e interminávelmente e quanta miséria defecamos pelos nossos olhos, boca e atos vãos. Procurava na imagem que tinha vivenciado ali, algum futuro, um resultado, uma oportunidade, uma perspectiva e óbvio, me dei conta de que é nítido que no estado em que aquela mulher se encontrava, não existiam perspectivas, futuros, muito menos oportunidades... 5 reais amenizadores da dor por alguns minutos ou talvez até o fim do dia, até que o ciclo diário a coloque de volta ao verdadeiro "real". Assim também me dei conta de que a mim é dada uma oportunidade única e exlusiva todos os dias, um conjunto de obras à serem construídas no presente, e consigo a existência de um futuro. De frente à miséria alheia pude enxergar não só à minha miséria mas a feliz e rara capacidade que me é concedida de ser e promover a felicidade, de plantar e regar o jardim alheio, já que assim a copa das suas árvores darão a sombra necessária ao meu descanso na rede. Passei um pedaço da tarde de domingo observando a linha horizontal que divide o céu do mar, a mesma que sempre me refiro como parâmetro do sopro da vida. A cada vez que a observo, absorvo algo de novo. Minha índia então lamentava-se do seu atual estado de espírito. Eu a-compreendo, ela se doou muito à alguem, que talvez não tenha a noção exata do significado e valor de doar-se. Minha índia tem um grande coração, tão nobre que nem cabe nela direito, rsrsrs, essa baixinha teimosa, não tem percebido o quão preciosa és e o quanto me ensina no simples olhar e som da sua voz. Um tanto desiludida, diria eu enfraquecida pelo peso de uma decisão, de várias decisões, as quais a vida nos obriga tomar e nos ensina ao fim das mesmas. Finalmente percebo que não precisamos querer ir além do horizonte para conhecermos a felicidade e para qual caminho seguiremos, qual decisão tomaremos, etc... O horizonte sempre será apenas uma linha imaginária, portanto nunca o alcançaremos. Na verdade a linha real desse horizonte está dentro de nós, das nossas aptidões, vocações, da nossa divina e infinta capacidade de amar e perdoar, negada por nós mesmos, pela redoma de ilusões que rotineiramente criamos. A decisão está em nós, está no nosso ser feliz ao invés de estar alegre!! A minha índia me fez reaprender a essência do amor! Te amo Tupinambá!  : )